A aluna Açucena Alijaj, do 12º ano da Escola Secundária de Rio Tinto, obteve a Menção Honrosa do escalão B (grupo etário 16-19) no concurso de escrita criativa READ ON.
O projeto "READ ON – Reading for Enjoyment, Achievement and Development of yOuNg people" visa promover a leitura junto dos jovens através de múltiplas iniciativas.
A temática definida para este ano é Cidadania e interculturalidade, que deriva do pressuposto de que vivemos numa sociedade cada vez mais diversificada, onde culturas, tradições e valores convivem e se cruzam. A iniciativa convida os participantes a refletir sobre o papel do cidadão no acolhimento e valorização da diversidade, promovendo a convivência pacífica e o enriquecimento cultural.
Foi isso que fez a Açucena, com o seu "Manifesto das Raízes que unem e das Asas que transformam", que aqui deixamos para que possam usufruir da sua escrita e das suas reflexões.
Parabéns Açucena!
Entre as raízes da terra e as asas do céu,
Carrego na pele um mundo que é meu,
Na fala, dois ritmos, em sonhos iguais,
No olhar vejo pontes e não muros, jamais.
A adolescência – onde me enquadro – é o período mais crítico na formação da identidade. Somos uma escultura ainda inacabada com rasgos exteriores abruptos, mas camadas interiores plenas de fragilidade e fluidez. Vivemos num mundo em que as fronteiras se diluem e as culturas se entrelaçam, como fios de um tecido rico e vivo. A cidadania, neste contexto, assume um novo significado: é ser parte de um mosaico humano onde a diversidade é a força que une, e não a fraqueza que separa. Com herança luso-albanesa, vivo diariamente essa fusão de culturas – um pé nas tradições que herdei do meu pai, e outro nas histórias, na língua e nos costumes da minha mãe. O pluralismo é o meu ponto de partida, e vejo nele uma força que nos permite ser mais do que apenas uma identidade fixa.
Para sermos cidadãos num mundo que respeita esse pluralismo e a diversidade cultural, precisamos, primeiro, de aprender a ver o outro como um reflexo de nós mesmos – humanos em busca de dignidade, respeito e oportunidades. A igualdade não é apenas um princípio, mas uma prática a cultivar diariamente. É abraçar a ideia de que cada pessoa merece as mesmas oportunidades, independentemente da cor da sua pele, do país onde nasceu, ou do idioma que fala.
Numa sociedade cada vez mais globalizada, o desafio é maior. É fácil criar estereótipos ou fechar os olhos à complexidade do outro. É mais difícil, mas muito mais recompensador, abrir a mente para entender. Precisamos de promover valores como empatia, solidariedade e justiça. A inclusão não pode ser apenas uma palavra de vanguarda, mas uma realidade que se vive nas escolas, nas ruas e no trabalho.
Quando combatemos o racismo, a xenofobia e a discriminação, não estamos apenas a proteger os direitos de minorias; estamos a fortalecer o tecido social de todos. Afinal, uma sociedade que respeita e valoriza cada cultura é uma sociedade mais rica, mais forte e mais preparada para enfrentar os desafios que surgem cada dia.
As oportunidades de viver numa sociedade global são muitas. Podemos aprender idiomas, tradições e perspetivas diferentes. Podemos transformar essa convivência numa fonte de inovação e de criação. Quando entendemos o outro, ampliamos a nossa visão do mundo e tornamo-nos mais completos. A diversidade é uma riqueza infinita, e cabe-nos cuidar dela.
Por isso, que este manifesto seja um apelo a todos os que têm raízes profundas e asas prontas a voar. Que possamos caminhar lado a lado, partilhando o que nos distingue e celebrando o que nos une. Que cada cidadão, de cada cultura, seja uma peça indispensável neste mundo plural. Que possamos construir uma sociedade onde as diferenças são aceites e as semelhanças celebradas, onde o respeito e a dignidade humana são as pedras angulares.
Açucena Alijaj, 12º Ano